Dra. Kadija Rahal Chrisostomo
Da etimologia grega, sarcopenia significa “perda da carne” e osteoporose “ossos porosos”, as duas enfermidades podem se apresentar juntas ou separadas e comprometem o sistema locomotor das pessoas por elas acometidas. Considerando que a idade é um fator de risco não modificável e com o aumento da longevidade há uma maior preocupação com a perda da autonomia e qualidade de vida, é imprescindível que os médicos estejam aptos a identificarem fatores de risco e sintomas, bem como recomendar medidas preventivas e tratamento.
Osteoporose é a diminuição da massa óssea, deterioração da microarquitetura óssea, aumento da fragilidade óssea e susceptibilidade a fraturas, sendo uma doença sistêmica e silenciosa. Apesar de poder atingir qualquer osso do corpo, as fraturas mais comuns são as de vértebras, quadril (acometendo principalmente fêmur proximal) e antebraço.
Fatores de risco inevitáveis para a doença são: idade, sexo feminino (mais comum em mulheres), etnia branca, história familiar de osteoporose, pós menopausa, biótipo de baixa estatura e baixo IMC.
Há diversos fatores de risco modificáveis, principalmente associados a uma dieta pobre em cálcio, vitamina D e proteínas, sedentarismo e falta de exposição solar adequada. Além disso, vale ressaltar que em condições clínicas como Insuficiência Renal Crônica, Doenças da Tireoide, Diabetes, pacientes com alterações cirúrgicas do trato gastrointestinal (principalmente pós cirurgia bariátrica), uso me medicamentos de uso crônico como glicocorticoides, anticonvulsivantes e outros, devemos ficar atentos a maior possibilidade de ocorrência da osteoporose.
A Sarcopenia em pessoas idosas pode ocorrer pela perda progressiva da massa muscular, havendo redução de força muscular, pela diminuição da qualidade da contração muscular prejudicando o desempenho físico, predispondo a perda de equilíbrio, aumento de risco de quedas e fraturas. A sarcopenia pode ser causada por alterações hormonais e fisiológicas do próprio envelhecimento, mas também está associada ao sedentarismo, má alimentação e falta de exposição solar. Sem medidas preventivas, estima-se que idosos com 80 anos de idade possam ter somente 50% da massa muscular da juventude.
A relação entre osteoporose e sarcopenia é definida por alguns autores como osteosarcopenia; quando há diminuição da força muscular associada à fragilidade óssea. Do ponto de vista fisiológico, massa magra adequada e a força mecânica proporcionada pela contração muscular durante a atividade física é um importante fator regulador na formação de células ósseas. Isso explica o porquê da atividade física, com fortalecimento muscular, ser essencial tanto na prevenção quanto no tratamento da osteosarcopenia. A atividade física deve ser resistida e supervisionada por profissional capacitado.
O diagnóstico destas enfermidades se dá através da identificação precoce de fatores de risco, história prévia de fratura por fragilidade óssea e densitometria óssea compatível (com avaliação de coluna lombar e fêmur proximal), testes simples de avaliação da força muscular para triagem desses pacientes e se necessário a Densitometria Corporal Total, que quantifica a massa magra e a massa de gordura por segmentos, individualizados e a gordura visceral.
É importante lembrarmos que a sarcopenia não está ligada apenas ao envelhecimento; doenças como câncer, processos infecciosos e inflamatórios graves, além de história de trauma grave e outros, predispõem a uma perda muscular acelerada.
Como tratamento, inicialmente corrigimos os fatores modificáveis, especial atenção a dieta, atividade física e exposição solar adequada.
Já, o tratamento farmacológico deve ser indicado e acompanhado caso a caso. Podemos incluir suplementação de cálcio, vitamina D e proteínas, e se necessário terapia hormonal no climatério e medicamentos antirreabsortivos ou formadores de ossos.
Vale ressaltar a Terapia Hormonal (com indicação de tipo, dose e tempo feita pela (o) ginecologista), como importante aliada na prevenção e tratamento da osteopenia em mulheres. O estrogênio atua no sistema ósseo bloqueando as células responsáveis pela degradação óssea. Como há uma queda desse hormônio na menopausa, assim há maior chance para a osteopenia e osteoporose, o que justifica porque a osteoporose é até 8 vezes mais comum em mulheres do que em homens.
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